segunda-feira, 21 de março de 2011

A Era da Estupidez

No documentário A Era da Estupidez, de 2009, um historiador fictício, possivelmente o último homem na Terra, examina uma sequência de planos de um filme de arquivo de 2008 e contempla os últimos anos em que a humanidade poderia ter se salvado do colapso ecológico global. Conforme reflete sobre as vidas de diversos indivíduos – um empresário indiano que constrói uma nova companhia aérea econômica; um grupo de uma comunidade britânica preocupado com a mudança climática, mas tendo dificuldades com a criação de uma nova turbina eólica na região; um estudante nigeriano esforçando-se para viver o sonho americano; e um americano do setor petrolífero que não vê contradição entre seu trabalho e seu amor pela vida ao ar livre – o historiador pergunta-se: “Por que não nos salvamos quando tivemos a oportunidade?” Será que simplesmente estávamos sendo boçais? Ou será que “em alguma medida não tínhamos certeza de que valia a pena nos salvar-
mos?” A resposta pouco tem a ver com a boçalidade ou autodestruição dos seres humanos, mas tem tudo a ver com cultura.

Os seres humanos estão cravados em sistemas culturais, são moldados e refreados por suas culturas e, quase sempre, agem apenas de acordo com as realidades culturais de suas vidas. As normas, símbolos, valores e tradições culturais que acompanham o crescimento de uma pessoa tornam-se “naturais”. Assim, pedir às pessoas que vivem em sociedades de consumo que restrinjam o consumo é o mesmo que lhes pedir para parar de respirar – elas conseguem fazê-lo por um momento, mas depois, arquejando, inalarão ar outra vez. Dirigir carros, andar de avião, ter casas grandes, usar ar condicionado… não se trata de escolhas decadentes, mas simplesmente de elementos naturais da vida – pelo menos, de acordo com as normas culturais presentes em um número crescente de culturas de consumo no mundo todo. No entanto, embora pareçam naturais para aqueles que são parte dessas realidades culturais, esses padrões não são nem sustentáveis nem manifestações inatas da natureza humana. Eles se desenvolveram ao longo de séculos e estão hoje sendo reforçados e disseminados a milhões de pessoas em países em desenvolvimento.
Para prevenir o colapso da civilização humana é necessário nada menos do que uma transformação generalizada de padrões culturais dominantes.
Essa transformação rejeitaria o consumismo – a orientação cultural que leva as pessoas a encontrar significado, satisfação e reconhecimento através daquilo que consomem – que seria então tido como um tabu, e criaria em seu lugar um novo arcabouço cultural centrado na sustentabilidade.
No processo, surgiria um entendimento reformulado do significado de “natural”: significaria escolhas individuais e da sociedade que causassem dano ecológico mínimo ou, melhor ainda, que devolvessem a saúde aos sistemas ecológicos da Terra. Tal mudança – algo mais fundamental do que a adoção de novas tecnologias ou políticas governamentais, que não raro são consideradas os principais propulsores de uma mudança para sociedades sustentáveis – remodelaria radicalmente o modo como as pessoas entendem e agem no mundo.

Fonte: 2010 Transformando Culturas - Do Consumismo à Sustentabilidade - Relatório do Worldwatch Institute sobre o Avanço Rumo a uma Sociedade Sustentável. Páginas 3 e 4.

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