quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A nova onda do Serra


“O uso da  religião para propósitos fascistas e a perversão da religião em um instrumento de propaganda de ódio, como um cruzada antidemocrática em nome da salvação da democracia, é uma tática disseminada entre os grupos de extrema direita” (Carone, 2003).



O que vimos nestas eleições não foi apenas a tentativa de desmoralizar um candidato, foi mais e algo pior: o insuflar da dita “massa cheirosa” contra os não tão cheirosos assim. Conluio da igreja, mídia e direita, protagonistas desta Cruzada Antidemocrática. Podemos dizer que uma repetição do que ocorreu às vésperas do Golpe de 1964.
Uma verdadeira caça às bruxas, da “supremacia branca”, abrindo perseguição principalmente, aos nordestinos, aos feministas e aos petistas, não direi esquerda, pois o PV, (apesar de não tão esquerda assim) de certa forma foi blindado para lhes servir e o restante da esquerda, inócuos.

Uma verdadeira caça às bruxas, da “supremacia branca”, abrindo perseguição principalmente, aos nordestinos, aos feministas e aos petistas (não direi esquerda, pois o PV de certa forma foi blindado para lhes servir).
E muitos, principalmente os jovens, que são facilmente aliciados, fazendo parte deste grupo, perderam toda a noção de bom senso e caráter no afã de pertencer a uma doutrina que faz apologia ao totalitarismo.
Insandecidamente vi muitos defenderem o retorno do Regime Militar, como algo bom. O pior que sei que realmente acreditam nisto, pois foram “adestrados” a acreditar que isto era o melhor. Manter-se superior as outras classes sociais, manter seu quinhão e não querer dividi-lo. Vi uma charge que definia bem estas pessoas, os cidadãos de classe-média: Primeiro, vê um mendigo na rua e diz: Por que o governo não faz nada por eles? Em seguida, uma foto de uma pessoa segurando o cartão do bolsa-família: O governo sustenta vagabundos com nossos salários. Ou algo assim, mas um retrato fiel.
Triste também foi ver pessoas que não são ligadas culturalmente a estes grupos, como alguns nordestinos, defenderem tal discurso. Como que renegando suas próprias raízes, envergonhando-se de si próprio, por exemplo, o deputado Roberto Freire. Não percebem estes que são apenas peças para serem usadas e descartadas quando não mais forem úteis.
E o aborto? Usado pelo casal Serra para denegrir a então candidata, Dilma Rousseff. E a igreja, incluindo-se o Papa, com medo perder ainda mais seguidores e consequentemente seu poder, não pode deixar de se intrometer, “esquecendo-se” de que o Brasil é um país laico. Um debate que se faz hoje extremamente necessário, visto os custos sociais e psicológicos tanto para a mãe, quanto para a criança não desejada. Um tema importante que envolve vidas, que serviu apenas como instrumento para alimentar o ódio.
Também aproveitando da religiosidade foi o casamento gay. O que importa ou diferença fará para nós, se gays casarem ou não? Que diferença fará em nossas vidas? Se somos contra ou a favor desta união, não vem ao caso, mais uma vez são vidas que tem o direito de escolher o que é melhor para si. A questão aqui é ter liberdade e direito sobre sua própria vida e escolhas e não cabe a nós decidir isto.
Ah! E não podemos esquecer da gloriosa “bolinha de papel” que teve um papel de destaque em uma eleição, nunca antes vista... em nenhum lugar do mundo (e acho que nem em outros mundos). Bolinha de papel que foi a estrela de um filme de horror... E nossa mídia (leia-se neste caso, Globo, por favor), pronta para transformá-la em um bomba de 100 megatons.
Tivemos também os “pitis” do Serra com os jornalistas, mostrando seu lado de Ditador, e suas “n” mentiras e distorções da realidade.
Inúmeros atos e fatores, que infelizmente não terminariam com o fim das eleições...

No domingo comemorávamos a vitória da Dilma sobre tudo isto. Por alguns momentos sentimos uma alegria extrema. Eu estava no Twitter, postando minha exultação e impressões, e de repente, várias pessoas começaram me criticar e até xingar. Até aí, minha alegria ainda era maior e respondi a estes de forma brincalhona. Porém, acompanhando a hashtag #DilmaDay, lançada no dia pelo PT para alavancar sua candidata na ferramenta. Eis que começo a notar verdadeiras manifestações de ódio por parte dos simpatizantes do candidato derrotado. Neste momento minha alegria começou a arrefecer e uma tristeza enorme tomou conta de mim, pois eram brasileiros como eu, pessoas que vivem sob o mesmo céu, mesma cultura, e pareciam animais ferozes em busca de sangue. Então começaram as criticas vorazes contra os nordestinos, que acabaram na mídia. Mídia que incentivou isto, ao dizer centenas de vezes que o Nordeste definiria as eleições, o que não condiz com a verdade. Mesmo se considerássemos apenas os votos das regiões Sul e Sudeste, Dilma se elegeria.
E também, se tivesse decidido, qual o problema? Todos os brasileiros votaram. O que vale é o país, não os estados da federação. Paulistas, gaúchos, baianos, goianos, amazonenses, todos votaram, seja em Serra ou Dilma, e a todos foi garantido o direito de votar. Outros reclamaram que foi escolhida uma data que é véspera de feriado, porém a legislação brasileira (LEI Nº 9.504, DE 30 DE SETEMBRO DE 1997), determina que todas as eleições ocorram no primeiro domingo de outubro dos ano em que serão realizadas, no horário das 8 horas até as 17 horas e no caso de segundo turno, no último domingo de outubro, no mesmo horário. Portanto, não foi Lula por uma manobra política que escolheu esta data... Só um porém aqui: os mesmo que reclamam do voto ser obrigatório, reclamaram do segundo turno ser véspera de feriado.
Todos os argumentos da direita foram falhos, caquéticos, mas tiveram a força de iludir boa parte dos 40 milhões de eleitores que votaram em Serra. E pior: Insuflou-se ódio entre paulistas principalmente e o resto do país. Irmãos contra irmãos, colocou à tona preconceitos velados, despertando um monstro que precisamos com urgência que volte a adormecer, antes que cause danos a nossa ainda frágil democracia.

Conseguiremos parar esta onda?

Discurso do professor Ross, no final de “A onda” (Die Welle, 1980):

“Vocês trocaram sua liberdade pelo luxo de se sentirem superiores. Todos vocês teriam sido bons nazifascistas. Certamente iriam vestir uma farda, virar a cabeça e permitir que seus amigos e vizinhos fossem perseguidos e destruídos. O fascismo não é uma coisa que outras pessoas fizeram. Ele está aqui mesmo em todos nós. Vocês perguntam: como que o povo alemão pode ficar impassível enquanto milhares de inocentes seres humanos eram assassinados? Como alegar que não estavam envolvidos? O que faz um povo renegar sua própria história? Pois é assim que a história se repete. Vocês todos vão querer negar o que se passou em “A onda’. Nossa experiência foi um sucesso. Terão ao menos aprendido que somos responsáveis pelos nossos atos. Vocês devem se interrogar: o que fazer em vez de seguir cegamente um líder? E que pelo resto de suas vidas nunca permitirão que a vontade de um grupo usurpe seus direitos individuais. Como é difícil ter que suportar que tudo isso não passou de uma grande vontade e de um sonho”.

0 comentários:

Postar um comentário